A miopia das empresas em relação às pessoas - por Viviane Stadler
19 Julho, 2023
UMA JORNADA DE RISCO E RECOMPENSA
Estava lendo um artigo da Revista HSM, de Daniela Diniz tratando da "Epidemia do Desengajamento", quando pensei nesse artigo. E pensando bem não é muito difícil entender
por que colaboradores estão desengajados. Eu vejo pessoas desmotivadas diariamente e além dos culpados apontados no artigo, ainda visualizo muitos outros.
Nessa minha jornada de advogada de empresas para área trabalhista acompanho há mais de 20 anos o antes, o durante e o depois dos contratos de trabalho. Empregados vêm e vão nas empresas, e as ações trabalhistas, fiscalizações do Ministério do Trabalho e do Ministério Público do Trabalho também.
Algumas empresas aprendem a lição, outras não. E tudo segue no "sempre foi assim". As pessoas desistem de mudar a realidade ruim dos locais onde trabalham, vão embora, e cobram o desrespeito pelo qual comeram o pão que o diabo amassou no contrato de trabalho na Justiça do Trabalho.
As empresas então demitem uns tantos mal-educados, mas outros que disfarçam melhor suas atitudes ficam mais um pouco. O ambiente segue contaminado para desespero do Recursos Humanos, e do Jurídico que têm plena noção de quanto custou e custará tudo isso. E normalmente esse modelo de colaborador que gera o prejuízo é também a pessoa que tem ótimos resultados na companhia e que é vista como imprescindível. Se não for imprescindível aqui, será daqui a pouco em outra empresa, repetindo os estragos.
Os empregados estão cansados desse sistema. E sim, ficam nas empresas pelo tempo necessário para buscar e alcançar algo melhor. Treinamos muito colaboradores pelos quatro ventos mas ignoramos o básico: seguimos a leis trabalhistas à risca? Ou ainda não compreendemos que o limite de horas extras por dia é de no máximo duas?
Seguir essas pequenas coisas no dia a dia permite que os colaboradores tenham vida após a jornada de trabalho, vida por sinal da qual as pessoas se aperceberam nos últimos anos em decorrência da pandemia.
E as pessoas descobriram que viver é relevante, e a maioria não pretende mais viver para trabalhar. O trabalho precisa ser um local agradável. Que siga o básico: respeito aos horários, às leis do trabalho, à civilidade na cobrança de metas e resultados, a educação na comunicação entre os colaboradores.
A jornada pela diversidade, tão valorizada precisa ser verdadeira, pois de nada adianta fazer jornadas sobre o assunto e quando se observa a liderança não há mulheres entre diretores, gerentes, supervisores e coordenadores.
Outro dia em uma aula um gestor fez a seguinte colocação: disse que os colaboradores "não sabem essas coisas".
Eu conto ou vocês contam que toda a informação hoje está a distância de um "clique"?
Para quem ainda não percebeu, o mundo do trabalho mudou. Colaboradores não querem mais gastar horas em deslocamentos para chegar ao trabalho quando percebem que podem usar esse tempo de forma mais proveitosa. Então, se o trabalho pode ser realizado em casa com igual qualidade (e as vezes em menos tempo), porque a insistência no trabalho presencial? Deixem o trabalho presencial para quando realmente precisarem dele.
Aprendam a utilizar as ferramentas digitais de controle de produtividade.
Querem reter colaboradores? Ensinem sua liderança a respeitar o básico. E não pressuponham que eles sabem as regras trabalhistas, ninguém ensina isso na escola, nem na faculdade. É preciso ensinar seus gestores a cumprir a lei. E o gestor precisa realmente ser preparado para isso.
Quer ter um ambiente criativo e inovador composto por uma pluralidade de pessoas? Ensine-os a conviver e trabalhar com respeito. Dê conhecimento para suas equipes para que possam trabalhar de maneira integrada reconhecendo uns aos outros, não importa quem sejam, faça as pessoas se enxergarem e enxergarem aos outros, esse conhecimento integra, gera cumplicidade e entendimento, reduz conflitos e atritos na comunicação. Implante uma real Cultura de Respeito à Identidade nas empresas.
Não atender a essas regras é o que faz hoje os colaboradores pularem de galho em galho em busca de um ambiente de trabalho melhor.